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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ciência »
Hominídeos se adaptaram para comer capim e garantiram a evolução da espécie
 
Australopithecus bahrelghazali, hominídeos que viveram há cerca de 3 milhões de anos, se adaptaram para comer capins. Com isso, espécie expandiu seu território e aumentar suas chances de sobrevivência
Estado de Minas
Publicação: 13/11/2012 21:55Atualização:


Aparência do A. afarensis, contemporâneo do A. bahrelghazali: diversidade territorial (AP PHOTO/MICHAEL STRAVATO/AP - 28/8/07)
Aparência do A. afarensis, contemporâneo do A. bahrelghazali: diversidade territorial

Entre os diversos aspectos que permeiam a história da evolução humana, a alimentação certamente foi responsável por uma série de modificações adaptativas que garantiram a continuidade das espécies. Em um artigo publicado ontem na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Arqueologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, desvendou uma inesperada característica da dieta dos Australopithecus bahrelghazali, hominídeos que viveram há mais de 3 milhões de anos: eles se alimentavam de gramíneas e capins.

Os A. bahrelghazali são considerados os mais obscuros australopitecíneos, devido ao pouco material fóssil encontrado até hoje. O estudo britânico se tornou possível graças ao material encontrado em 1993 pelo paleontólogo francês Michel Brunet, em Bahr el Ghazal, no Chade. A partir da análise da concentração de isótopo de carbono nessas peças, os pesquisadores revelaram que, ao contrário de outros grandes primatas, a espécie se alimentava de plantas C4, cujo principal representante na época eram plantas rasteiras. “O resultado sugere que os primeiros hominídeos eram capazes de reconhecer e explorar novos alimentos desde muito cedo na história evolutiva. Isso não só lhes permitiu explorar muito hábitats como também marcou a diferença entre eles e os seus primos: os grandes primatas”, explica ao Correio Julia Lee-Thorp, principal autora do artigo.

Segundo ela, as conclusões foram surpreendentes, pois esse tipo de vegetação disponível em campos abertos era pouco acessado pelos grandes primatas, que habitavam florestas e bosques e se alimentavam principalmente de frutas. O que se esperava, portanto, era que os A. bahrelghazali tivessem um hábito alimentar semelhante, mas, pelo visto, não era isso que ocorria. Ao se adaptar a esse tipo de comida, a espécie pôde ampliar seu território.

A principal diferença entre as plantas C3 e C4 está na eficiência metabólica de cada grupo para fixar dióxido de carbono (CO2) e transformá-lo em glicose. “Apesar de que cerca de 90% da biomassa terrestre vir das plantas C3, no geral, as C4 são mais eficientes no aproveitamento de água, além de possuírem um ponto de saturação luminosa mais alta, ou seja, realizam fotossíntese em áreas com excesso de incidência luminosa com maior eficácia do que as C3”, esclarece o biólogo Danilo Vicensotto Bernardo, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de São Paulo (USP). Isso significa que as plantas C4 suportam melhor áreas mais secas e com forte incidência solar. Atualmente, um exemplo de planta C4 importante para a dieta de muitas populações humanas é o milho.

Para Bernardo, como o continente africano sofreu severas mudanças ambientais entre 4,5 milhões e 2,5 milhões de anos atrás, resultando em um processo de savanização, fica claro que a oferta de plantas C4 naquele momento tornou-se mais abundante. “Os hominíneos capazes de consumir esses vegetais desfrutaram, ainda que momentaneamente, de um nicho ecológico mais abundante do que aquele disponível aos indivíduos que só consumiam plantas C3. Evolutivamente, tal característica é pertinente, pois representa uma vantagem na aquisição de energia”, reforça. Dessa maneira, ao consumir essas plantas, os A. bahrelghazali aproveitaram os recursos disponíveis de maneira mais eficiente.

Variabilidade
O tipo de técnica usada no estudo tem permitido aos cientistas aprender muito sobre a alimentação dos ancestrais do homem. Mercedes Okumura, pós-doutoranda do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP), explica que a divisão de espécies dos australopitecíneos era antes feita em gráceis (que incluíam o Australopithecus afarensis, o A. bahrelghazali e o A. africanus) e robustos (A. boisei, A. robustus e A. aethiopicus). Essa separação estava relacionada à morfologia craniana e à dieta adotada pelas criaturas. “Dividíamos de forma simplista: os gráceis comiam alimentos menos duros (e de melhor qualidade) e os robustos, aqueles que demandavam maior mastigação (e de pior qualidade). Atualmente, graças aos estudos de isótopos, sabemos que há uma imensa variabilidade na dieta desses hominíneos, e que não há uma regra definida em termos da morfologia e da dieta”, diz.

Para Okumura, o estudo revela a ocorrência de diferenças importantes nos ambientes explorados pelas várias espécies de Australopithecus. Segundo ela, as regiões habitadas pelos A. bahrelghazali eram bastante diferentes das dos Australopithecus afarensis, homídeos que viviam na mesma época no leste da África, onde a vegetação era muito mais fechada. “Esses diferentes hábitats puderam ser explorados pelos australopitecíneos devido a adaptações na ecologia alimentar, incluindo uma dieta baseada fortemente em plantas C4, no caso do A. bahrelghazali, ao passo que outros australopithecus tinham dietas bastante diferentes, baseadas em plantas C3”.

Sobre os próximos passos do estudo sobre os hábitos dos ancestrais humanos, a pesquisadora Julia Lee-Thorp revela que deseja traçar uma comparação das taxa de C4 entre os vários hominídeos que viveram no mesmo período do Pleistoceno para avaliar o quanto de variabilidade alimentar existiu em toda a África. “Nós também gostaríamos de ver outras espécies analisadas, porque nós não achamos que atingimos a origem da inserção dos recursos C4 na alimentação dos hominídeos.” O estudo da Universidade de Oxford recuou para mais de 1,5 milhão de anos a data em que se acreditava que as plantas C4 passaram a fazer parte da dieta dos australopitecíneos, já que, até então, o registro mais antigo referia-se aos A. boisei, que datam de 2 milhões a 1,4 milhão de anos.

Palavra de especialista

Mercedes Okumura - pós-doutoranda do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP

“A importância dessa descoberta é enorme, dado que antes do advento dos estudos de isótopos estáveis e suas implicações na dieta dos seres vivos, geralmente inferíamos a dieta desses fósseis através de análises bastante indiretas. Estudávamos a morfologia dos ossos do crânio, especialmente as partes mais relacionadas com a mastigação e processamento os alimentos (mandíbula e maxila, dentes, músculos ligados à mastigação); estudávamos as marcas microscópicas deixadas pela mastigação (“estrias”) na superfície dos dentes; ou até mesmo lançávamos mão de estudos paleoambientais, na tentativa de inferir o que esses indivíduos consumiam. Atualmente, todas essas análises podem ser conjugadas com a análise de isótopos estáveis, que nos dá um panorama mais completo e preciso acerca da dieta dessas criaturas.”
Esqueleto de mamute é descoberto na França
AFP - Agence France-Presse
Publicação: 06/11/2012 15:22Atualização: 07/11/2012 12:00
Parte de um esqueleto de mamute, num sítio arqueológico em Changis-sur-Marne. Foto:  Loic Venance/ AFP Photo
Parte de um esqueleto de mamute, num sítio arqueológico em Changis-sur-Marne. Foto: Loic Venance/ AFP Photo
O esqueleto quase completo de um mamute, que teria vivido entre 200.000 e 50.000 anos antes de Cristo, foi descoberto em um sítio arqueológico perto da Picardia, norte da França.

Os ossos de tamanho impressionante foram descobertos no verão (europeu) passado por ocasião da escavação de um sítio galo-romano em Changis-sur-Marne, perto da cidade de Meaux, pelo Instituto de Investigação Arqueológica Preventiva (Inrap), que apresentou a descoberta nesta terça-feira à imprensa.

Foram reconhecidos um fêmur, duas presas, uma mandíbula e quatro vértebras ligadas aos omoplatas inferiores.

A análise dos ossos deve permitir traçar a história do mamífero, que tem sido chamado de "Helmut" pela equipe de escavação, embora não esteja claro se o esqueleto é de um macho ou de uma fêmea.

A descoberta excepcional também ajudará a esclarecer as ligações do mamute com o homem: por exemplo, investigando se ele morreu de morte natural, ou foi capturado.

No sítio também foram encontrados pedaços de silex que parecem ter sido usados para cortar a carne do animal, disse o cientista responsável pela escavação, Gregory Bayle.

Os arqueólogos já foram capazes de demonstrar que se trata de um animal jovem, com idade entre 20 e 30 anos.

O grupo também irá tentar explicar a presença no mesmo local de elementos de um segundo esqueleto de mamute, um úmero e um fragmento de presa.
Science »
Ancestral humano andava como homem mas subia em árvores como macacos
Publicação: 26/10/2012 08:52 do pernambuco.com
Há mais de três milhões de anos, os ancestrais dos humanos caminhavam eretos, mas ainda conseguiam subir em árvores como os macacos, indica um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica americana "Science".

Dois omoplatas extremamente bem preservados de um hominídeo similar à famosa Lucy, o primeiro ancestral bípede conhecido do 'Homo sapiens', que tem 3,5 milhões de anos, mostram que esta espécie continuava também vivendo em árvores, segundo estudo publicado esta quinta-feira nos Estados Unidos.

Os dois omoplatas fossilizados de uma menina 'Austrolopithecus afarensis', a espécie a que pertence Lucy, indicam pela primeira vez que estes hominídeos estavam bem adaptados morfologicamente para subir nos galhos.

O esqueleto completo de um deles, que viveu há 3,3 milhões de anos, batizado como "Selam", foi descoberto no ano 2000 na Etiópia.

"A questão de se o Austropithecus cujo primeiro espécime, Lucy, foi descoberto em 1974 na Etiópia, era estritamente bípede ou continuou evoluindo nas árvores, era objeto de debate há 30 anos", explicou David Green, professor de paleobiologia da Universidade Midwestern em Illinois (norte dos Estados Unidos), um dos principais autores destes trabalhos publicados na edição de 26 de outubro da revista Science.

"Estes omoplatas fossilizados proporcionam um indício sólido de que estes indivíduos continuavam subindo nas árvores neste estágio da evolução humana", acrescentou.

"Subiam para fugir de predadores ou por comida", explicou Green.

"Quando comparamos o omoplata da menina australopithecus aos membros adultos da mesma espécie, é evidente que as características de desenvolvimento se parecem mais com as do macaco", emendou.

Ao mesmo tempo, "muitos traços dos ossos do quadril, dos membros inferiores e dos pés dos austrolapithecus, que permitiam o bipedismo, se parecem sem equívoco à espécie humana", prosseguiu o pesquisador.

Green explicou que ainda não se sabe quando os humanos deixaram de subir em árvores.

"Esta descoberta confirma o lugar chave ocupado por Lucy e o menino Selam na evolução humana", acrescenta Zeresenay Alemseged, da Academia de Ciências da Califórnia, outro autor do estudo.

O 'Austrolapithecus aforensis' representa, na evolução, uma nova espécie de hominídeo, muito diferente da anterior, como o 'Ardipithecus ramidus' ou Ardi, que não caminhava ereto ou não o fazia de forma permanente.

Para Zerenesay Alemseged, "esta descoberta permite progredir na nossa busca por determinar quando nossos ancestrais pararam de subir em árvores para se tornar estritamente bípedes: parece que isto ocorreria muito mais tarde do que pensava um grande número de pesquisadores".

David Green explica à AFP que o 'Homo erectus', um ancestral do 'Homo sapiens' que vivia há 1,9 milhão de anos, tinha uma morfologia que o fazia mais similar aos humanos e parece ser, até o momento, a primeira espécie estritamente bípede.

"Mas infelizmente entre Lucy, que viveu há 3,5 milhões de anos, e o 'Homo erectus', temos um longo período desconhecido que tentamos compreender com fósseis", disse.
Há três milhões de anos, hominídeos caminhavam eretos, mas ainda subiam em árvores como macacos (AFP/Lealisa Westerhoff )
Material de parasitologia
 
 
 
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